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Terapia é, também, sobre Dor

  • Foto do escritor: Karoline Pereira
    Karoline Pereira
  • 20 de jan.
  • 5 min de leitura

Há mais de uma hora estou tentando escrever um texto. Um texto para explicar um pouco mais sobre meu trabalho, para tentar ampliar um pouco a captação de novos clientes. Um texto que na minha ideia precisa conectar e ampliar a compreensão do que a psicoterapia é capaz de fazer na vida de uma pessoa. A minha ideia parece ótima, dentro da minha cabeça, mas nada do que escrevo me agrada. Perdi uma hora já. Gastei uma folha - as vezes escrevo á mão, isso ajuda meu processo da escrita - e nada funcionou.


A grande verdade é que não consigo escrever sobre as belezas do processo terapêutico porque estou sofrendo. Não consigo construir uma narrativa de começo, meio e fim sobre um processo que é extremamente pessoal e exigente. Não consigo sequer iniciar um texto sem visitar minhas sessões com minha terapeuta e pensar: não consigo narrar absolutamente nada que não seja a minha própria dor.


Desisti do texto. Abandonei os rascunhos.


Talvez seja esse meu grande erro. Escrever um texto falando das coisas boas que vem com o processo de psicoterapia uma vez que grande parte do tempo que passamos com um terapeuta, falamos sobre coisas que doem. Não parece ser mais uma repetição de tudo que nos empurram goela abaixo nas mídias? Sempre tem um caminho certo para a “felicidade” ou para o bem estar.


E eu não quero ser mais uma repetição, não quero fazer ninguém perder tempo de vida. Não quero vir aqui escrever e te fazer de alguma forma pensar que fazer terapia é super legal e vai fazer você se sentir melhor e por isso você vai entrar num processo. Eu não acredito nisso, não assim, não dessa forma.


A psicoterapia é um processo exigente, que nos coloca diante de muitas coisas que não queremos admitir ou enxergar. E demanda muito mais do que eu posso explicar num texto.

Estou há seis anos com minha terapeuta. Ela já me ajudou a atravessar momentos muito sombrios na minha história. Mas existe um lugar que eu ainda não tive coragem de entrar. E ele segue voltando. Nunca vou me esquecer de uma sessão em que ela me disse: você se esconde nos bastidores, você vive a vida da sua esposa, agora da sua filha para não ter que viver a sua própria vida. Ela completou: eu ainda não sei o que foi que aconteceu na sua história que fez você acreditar que você não pode existir. Você não aparece, Karol!


Ali ela me pegou de jeito. Essa frase: você não pode existir. Que medo é esse que eu tenho de aparecer?


Você que me lê, pode estar pensando: é sério, esse é o ponto que ela não consegue entrar? Ou talvez essa frase que acabei de escrever seja só mais um reflexo do quanto eu diminuo aquilo que me faz sofrer… Rs. De pouco em pouco, eu vou percebendo que esse lugar de não existir vai tomando forma até nas pequenas coisas que eu faço e em como eu vou me apagando sutilmente.


Para um processo acontecer precisamos ser honestos com a gente. Precisamos encontrar em nós a força para admitir nossos piores medos, nossos piores momentos, aquilo que acreditamos ser a verdade sobre nós mesmos.

E tem sido esse meu grande desafio. Eu simplesmente não consigo ir além. Minha terapeuta, bastante sensível, me sinaliza, mas não me exige. Ela segue me mostrando, mas não me pressiona. Devagar, vamos nos aproximando desse meu não-lugar, dessa minha tendência a abandonar a mim em prol do outro que eu julgo precisar de mim e dos meus cuidados. Hoje, estou atenta a minha inclinação em fazer tudo pelo outro para não precisar olhar para mim. É bem doloroso, mas prefiro saber o que estou fazendo do que viver minha vida ás cegas.


Então, daria mesmo para eu escrever o quão bom é um processo terapêutico? Seria eu capaz de construir uma narrativa contando os benefícios que temos ao entrar num processo? Talvez, eu não consegui escrever esse texto porque eu não acredito nisso. Eu acredito nos benefícios, eu mesmo vivencio muitos deles além de testemunhar tantos outros como terapeuta que sou. O que eu não acredito é num texto que vai dizer que ampliamos a nossa percepção sobre nossa vida, melhoramos relacionamentos, amenizamos ou erradicamos crises de ansiedade, melhoramos quadros de depressão e etc. Isso, não. Eu não posso escrever um texto falando que esses são os benefícios de um processo, muito embora eu saiba que eles acontecem.


Eu acredito que temos muito mais do que isso. E, como estou em sofrimento agora, a minha lente está tendenciando para o lado doloroso do processo, que também é real e que também precisamos falar sobre ele. Quando eu falo de ampliar a percepção pela vida eu também falo sobre enxergar a vida como ela é. Como assim, Karol?


Recentemente, precisei dar conta da ruptura de uma ilusão que eu sustentava. Eu sempre idealizei construir uma família. Casamento, casa com quintal, cachorro, filhos. Quase a família margarina. Essa era minha fantasia, minha ilusão. Um sonho, talvez. E isso se rompeu. Eu me separei, estou vivendo o oposto do que eu desejava. Mas o que eu vivia não estava sendo bom e o que me impedia de tomar uma atitude era a ilusão de família. É muito doloroso começar a enxergar que a vida não bem aquilo que eu pensava que era. É custoso começar a perceber as coisas sem aquele filtro para deixar tudo mais bonito. Isso, é ampliar a percepção. E eu me senti quase no mito da caverna. Onde enxergar cada vez mais doía. Mas uma vez visto, não pode ser desvisto, eu até tentei voltar para a caverna, mas não dava mais para viver ignorando o que havia sido visto.


Eu não consigo falar sobre processo terapêutico sem falar da dor. Porque é sobre a dor, é sobre viver, é sobre atravessar dificuldades, conflitos e perdas.

Existe beleza? Sim, e como há! Tem coisas boas! Muitas! Sentir orgulho de quem somos é uma delas. Perceber gatilhos, encontrar estratégias e nos percebermos fortes são outras. Mas o que eu acho mais bonito e é o que eu acredito ser a alma do processo terapêutico é a capacidade que vamos desenvolvendo cada vez mais de sermos quem a gente é.


Nascer do sol, terapia

O processo terapêutico é exigente, porque ele é o encontro com quem eu sou de verdade. É o resgate da minha história e é a possibilidade de eu assumir as rédeas da minha própria vida. Responsabilidade é algo sério e assustador. Mas também é liberdade. Eu gosto muito da minha terapia porque eu sinto um forte compromisso comigo mesma de não mais fugir de quem eu sou, de não me enganar, de ser honesta comigo mesma e de tentar sair dos bastidores cada dia mais. E eu faço por mim. As vezes, eu digo que é também por querer ser melhor para minha filha. Mas no fundo, eu sei que é por mim.




 


Psicóloga em campinas, psicologia

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